terça-feira, 23 de junho de 2009

O Estado mais Puro da Arte

Consultando o nosso blog NCBjovens, essa criança que cumpriu recentemente o segundo aniversário, é fácil ignorar o subtítulo que desde que me recordo o acompanhou: "O Estado mais Puro da Arte". Houve uma altura na qual, não sei porque razão ou de quem partiu, nós achamos por bem ter esse lema para este Grupo Juvenil NCB. Penso que, na maioria das ocasiões, cumprimos essa premissa, mantendo a Arte teatral num horizonte próximo, que influenciou o que é, na minha opinião, trabalho, acima de tudo: a produção de peças/projectos teatrais.

Consultando a Wikipedia, na versão inglesa (porque de facto, e com todo o respeito, não lido bem com o persistente "sotaque" da versão "portuguesa"), li o que procurava em "Art", uma expressão interessante: "Generally, art is made with the intention of stimulating thoughts and emotions" (Trad.: "Na generalidade, a arte é criada com a intenção de estimular pensamentos e emoções"; negrito meu). Sem ser muito profunda na exploração do que a arte é (questão por demais conturbada e longa), esta frase diz muito do que eu entendo ser a Arte e o que temos vindo a fazer enquanto artistas que, antes de tudo, somos ou devemos ser. Isto passa muito pelo blog e pelo que aqui temos escrito.

Como devem calcular, serei certamente o mais atento leitor deste cantinho da web, por editar os textos e tomar grande parte das decisões que aqui se reflectem, que ocuparam grande parte dos meus últimos dois anos (senão quatro, contando com o tempo no qual tenho vindo a orientar o grupo), particularmente no que diz respeito a pensamentos e, quiçá sobretudo, emoções. Assim, apesar deste forte viés, posso afirmar que aqui encontramos parte do "estado mais puro da Arte". O que agora me proponho fazer é eleger alguns dos melhores momentos (leia-se "textos") que traduziram a Arte (e por vezes a Ciência) desta já longa página com dois anos de idade.

Ninguém que tenha lido os meus comentários com alguma frequência (é fácil, dado que comummente são os únicos) estranhará que a minha escritora favorita no blog seja a Joana Raquel Antunes. Comecemos então por ela, nesta curta viagem. O excelente texto "Eu?" permite-nos constatar a potencial veracidade de uma crítica que por vezes lhe foi, entre dentes, lançada: extensivo uso de linguagem técnica da Psicologia. Discordo e recomendo este texto sobre interpretação, muito bem conseguido. Noutro tom reside o texto "Cinderela à meia-noite menos dez...", muito mais recente, que não tem qualquer aspecto técnico. É uma pura janela da alma, que me faz lembrar porque me "apaixono" tão facilmente pelas obras desta artista, que já me "conquistou" em vários palcos, dentro e fora do sentido figurado.

Outra escritora muito próxima do meu coração é a Liliana Ribeiro, muito mais capaz no raciocínio do que na expressão escrita do mesmo, mas ainda assim deliciosa. Vou novamente pegar num dos primeiros e no último texto desta artista. "Técnicas do Teatro e a sua utilização no nosso dia-a-dia" é o que o título indica, um enumerar de mais-valias que o Teatro proporciona, mostrando a atenção e dedicação da que foi por vós nomeada "Melhor Actriz do Festival da Maioridade" o ano passado, exactamente por essas qualidades. Já o "Medo de ser diferente!!" continua a advogar as mais-valias do Teatro, mas demonstrando uma capacidade de dissecar a nossa cultura e sociedade, particularmente no que a jovens diz respeito. Textos que não fogem ao tema: Teatro e o forte amor desta artista por esta nobre Arte.

Um autor que não pode ser ignorado é (sou)... eu próprio. O primeiro texto deste blog pertence-me e é emoção pura. Sou uma pessoa que mistura a racionalidade que advogo com o lado emocional que sempre me perseguiu. Desta vez cedi a este último: "Nova Comédia Bracarense, desde 1990". Como arqueólogo que sou, cedi também ao lado de "revisão" da realidade, revisitando e relatando o que se passou, como acontece em vários textos. Recomendo um que marca a nossa história: "O Festival da Maioridade - um balanço".

Quanto ao meu amigo, e amigo deste blog e do nosso grupo, o Pedro Oliveira, vou salientar o primeiro texto, que marca o tipo de argumentação e raciocínio por ele aqui desenvolvidos. "Braga teatral?" é agressivo, provocativo e, acima de tudo, realista. Traz uma perspectiva exigente dum homem que faz parte das pessoas que acredita no trabalho e na verdadeira conquista de um lugar ao sol, ao invés de uma gestão corrente permeável a propostas duvidosas, que caracteriza o nosso país e mundo em geral.

O Diogo Ferreira trouxe-nos sempre um tom divertido e tradutor da criatividade deste autor, que aqui honrarei com a menção de dois textos. O primeiro foi de facto o seu primordial contributo: "Nova Companhia na Companhia", no qual explora a entrada de novos membros no Grupo Juvenil, transparecendo o espírito de grupo de toda a equipa. O segundo publicou-se pouco após, "Halloween", que nos traz a boa disposição e uma ligação teatral deste evento que está cada vez mais aqui.

Chegados aos mais recentes colaboradores (dentro dos que achei dignos de nota, claro), começo pelo Rui Lucas: este estudante de Jornalismo não hesitou em criticar a "falsa Arte", em "O que é um actor? Parece que há gente importante que não sabe!". Num estilo compulsivo e convincente, O Lucas mostra o que a Arte (não) é.

O Tiago Pintas mostra-nos em "O(s) público(s)" a mesma inteligência acutilante com que nos brindou n' "A Divisão", interpretando "Jonas". A sua leitura da importância de uma das nossas mais fortes paixões e obsessões, as plateias repletas, permite por momentos ler os olhos de desilusão de um qualquer actor defraudado, num mau dia para si ou da parte do público.

"A revolta do actor" fala de Teatro do Oprimido e traz-nos o Bruno Boss, que aqui mostra a sua capacidade de interpretar o que há de bom num género, de modo a trazê-lo para bem perto do coração do nosso público. De forma directa e de absorção rápida, este texto permite ao organismo assimilar com simplicidade uma ideia complexa e difícil de retratar. Digno dos mestres.

O Pedro Bafo, da mesma "fornada" que os últimos artistas mencionados, escreveu um hino à exigência que um artista deve ter de si próprio e do Grupo que o acompanha. "Um ano de NCB-Jovens" é um texto que soma um saldo positivo, mas se faz acompanhar de uma boa dose de auto-crítica e apreciação dos reais valores dos projectos tocados.

O mais recente texto do Pedro Kayak fala-nos do falecimento (bem como da vida) de Augusto Boal, "inventor" do Teatro do Oprimido. Um texto que revela o interesse do artista no Teatro e neste género, a sua capacidade de síntese e de honrar um seu mestre, num difícil e emocional momento. Recomendo-vos "A luta continua!" porque é verdadeira, em tantos aspectos, esta afirmação, e reveladora do espírito revolucionário e apaixonado do seu autor.

Assim vos li os melhores momentos, quanto a mim, deste work in progress que é o NCBjovens.blogspot. Demorou a consultar e redigir, mas ocorreu facilmente, com carinho, com alguma nostalgia e revisão de momentos piores e melhores. Um verdadeiro "trabalho de amor", tal como a Arte que aqui veiculamos. Deixe-se ficar, porque venha quem vier, aconteça o que acontecer, os jovens que tocaram, tocam e tocarão os palcos e os teclados com a grande e histórica Nova Comédia Bracarense e o seu Grupo Juvenil sempre serão dignos do rótulo "O Estado mais Puro da Arte".

Teatro, eu amo-te. E não estou sozinho...

NCB, sempre!

Miguel Marado

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