terça-feira, 25 de novembro de 2008

O(s) público(s)

Olá a todos, estou de volta a este nosso e vosso espaço, onde podem encontrar sempre algo interessante sobre teatro e tudo o que o rodeia. Podem dar a vossa opinião de diversas formas e podem também encontrar sempre algo de maior interesse para vocês, como penso que é o caso de hoje. Levo até vós este texto que nos fala sobre o público dos espectáculos teatrais: o papel do público, os diferentes tipos de público e também o meu cunho pessoal acerca de vocês, que nos vêm ver.
Durante a minha modesta “carreira” teatral já encontrei diversos tipos de público. Eu, que comecei a fazer teatro no âmbito escolar há cerca de 7 anos, predominantemente nessa altura constatei que o público com que me deparava era da mesma faixa etária que eu, pois grande parte dos espectáculos eram feitos para escolas. Esse tipo de público, mais novo e que normalmente não está a assistir a uma peça de teatro por iniciativa própria, nem por muito menos apreciar aquilo que está a ver, é um público mais difícil. Mais difícil no sentido em que vai dificultar a tarefa do actor, isto por ser um público desatento, desinteressado e, no fundo, barulhento. Durante uma mostra teatral há algo imprescindível, o público, mas também não deixa de ser imprescindível, que esse mesmo público seja respeitador, e no fundo, respeitar quem arduamente trabalha para levar algo a palco. Não é mais que não perturbar o desempenho dos actores nem aqueles espectadores atentos com gosto pelo teatro. Não podemos pedir a ninguém que goste do nosso trabalho, que goste do teatro, a única coisa que nós, artistas, podemos pedir é respeito.
Mesmo com o evoluir dos tempos, e mesmo depois de ter entrado para a Nova Comédia Bracarense continuei a cruzar-me com esse tipo de público: crianças que interrompem, pais que se riem das mesmas crianças, e espectadores que parecem gostar de protagonismo e preferiam estar no palco.
O outro tipo de público difícil é bem mais agradável. É um difícil, que é difícil, por ser difícil de agradar. Isto é, um público atento, crítico, e que gosta de teatro, que sabe avaliar a capacidade de um actor, o desempenho, e todo o mais pequeno pormenor. No fundo é para esse tipo de público que nós trabalhamos todos os fins-de-semana, não querendo com isto discriminar nenhum tipo de público, apenas digo isto porque nós trabalhamos sempre para o melhor, e o melhor é o que vai agradar esse público mais exigente.
Vocês, público, são quem ainda nos dão vida nesta comunidade cada vez menos interessada por esta bela forma de arte. Continuem a aparecer, e sempre que forem assistir a um espectáculo, mais propriamente aos da Nova Comédia Bracarense, levem um ou dois amigos que não esteja habituado ao teatro, pois se todas as pessoas fizerem isso, vão ver que o espectáculo vai valer mais a pena, não só porque vocês são peça fulcral, mas também porque subir a palco e ver um auditório cheio é a melhor sensação do mundo.

Tiago Pintas

Um comentário:

Miguel Marado - NCB disse...

Gostaria de começar por dizer que este é um excelente texto do Tiago: é frontal, é bem escrito, é bem estruturado e tem momentos que tendem a ficar na memória.

É por este, como tantos outros textos, que eu me orgulho do meu trabalho de "editor" (no sentido anglo-saxónico da expressão) desta página na Internet. Sou eu quem normalmente agenda os diversos momentos de escrita e avisa os autores das datas a cumprir, sou eu quem habitualmente lê e revê os textos, para evitar gralhas e outros erros.

Orgulho-me porque parece fácil sair aqui um texto, ou algo assim, todas as semanas. Parece, mas nem sempre é. Se fosse fácil não era coisa para mim. Tem de haver sempre alguma quezília a apimentar as coisas, alguma questão a resolver...

Orgulho-me também porque gostaria que este blog fosse ainda mais lido, tenho ambição. E acho que produzimos o suficiente em quantidade e qualidade para o justificar. Ora, isto requer esforço (não só meu, não me entendam mal).

A média das Companhias amadoras de Teatro não tem uma página actualizada e participada. A nossa tem. É óptimo, num país como Portugal, ser superior à média, porque a média é um valor onde ninguém se deve orgulhar de estar, com o cano de esgoto tão próximo.

Pena é que nem todos entendam isso. Será esse o fim de todos nós, o deixarmo-nos embriagar pela sedução da média porcaria?

Se não for para ser o melhor que há, sinceramente mais vale ficar em casa, fechado. O palco da vida e a vida no palco não nos merecerá assim. A banalidade é tão vomitada e re-tragada que não vale o esforço.

Portanto, enquanto alguém escrever aqui e eu puder gabá-los por isso, vou ser alguém orgulhoso de mim e do meu grupo. Quando isso assim não for, encontrar-me-ão obeso, sujo e cego, colado ao mau tecido do sofá, mas sem uma preocupação que seja na vida.

Miguel Marado