quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Ao teatro? Claro que sim…

Pode ser uma questão de tempo, uma questão de espaço, uma questão de questionar o porque sim ou porque não, uma questão de oportunidade quem sabe, de possível desfasamento entre a oferta e a procura. Ainda não consegui entender se gosto de ir ou não ao teatro.

Como já tem vindo a acontecer, este texto é resultado de uma problemática ou dúvida que me assaltou num momento qualquer. Desta vez, deparei comigo a pensar se, de facto, não ocultando a minha vontade ou desejo com máscaras social e intelectualmente correctas, gosto de ir ao teatro. Gosto do ritual, isso sim, da companhia – na verdade, nunca fui ao teatro sozinha ou com alguém que não aprecie –, do programa pode ser – note-se que não vou ao teatro assim tão assiduamente, o que faz das vezes em que vou programas diferentes do habitual. Agora, se gosto de ir ao teatro?

Na tentativa de, pelo menos em parte, me esclarecer, decidi repescar e centrar-me em experiências passadas de idas ao teatro. Não ajudou. Não ajudou porque, como seria de esperar, recordei aquelas ocasiões em que adorei lá ir, em que a minha percepção do tempo foi totalmente discordante da quantidade real do tempo que lá passei, tempo que, no final, considerei brilhantemente empregue. O argumento, o assunto, a história, interessantíssimos; o elenco, as personagens, suas dinâmicas, fabulosas; os “pormaiores”, que é como quem diz, os cenários, guarda-roupa, luz, som, no ponto. No mínimo, um incrível momento de entretenimento, reflexão e aprendizagem. Decididamente, adoro ir ao teatro. E depois houve aquelas peças que traziam no bolso o aborrecimento, a incompetência, a desilusão. “Não valeu a pena”, pensei. Não percebo quase nada de teatro, mas acho que isso não invalida poder opinar e criticar, positiva ou negativamente. Sei perfeitamente que a dúvida não se encontra no facto de eu gostar ou não de teatro, da arte sei que gosto, porque me interessa, me cativa. A questão é se gosto ou não de ver teatro, isto é, em que é que penso quando tenho de responder a um convite para lá ir, por exemplo. Será que a quantidade reduzida de vezes que assisto a teatro se deve ao tempo que é empregue, ao espaço no qual acontece, a uma simples questão de oportunidade? Sinto, sinceramente, pelo menos no que diz respeito ao nosso país, que existe uma sede enorme de cultura, o tal desfasamento supracitado. A ignorância, como alguns lhe chamam, a carência de educação cultural, prefiro, é um ciclo vicioso. Logo, como o povo é inculto, não é necessário investimento na área; como há pouco investimento, a todos os níveis, não é dada sequer a hipótese ao povo de experimentar, de descobrir que gosta, de se cultivar.

Foi o encarar com leviandade de algumas encenações que me conduziu a este pequeno delírio de, às páginas tantas, não compreender, intimamente, se gosto ou não de ir ao teatro. Porque acredito no bom teatro que se pratica em Portugal, no geral, na Nova Comédia Bracarense, em particular, convido-me a mim mesma e a todos a ir ao teatro. Porque o conceito de bom só existe por oposição ao de mau, vamos motivar-nos…e cultivar-nos. Ao teatro? Claro que sim…com certeza…


Joana Raquel Antunes

2 comentários:

Miguel Marado - NCB disse...

Mais um excelente texto desta autora, com quem tenho de concordar. As produções que nos são disponibilizadas nem sempre são perfeitas, mas desde quando o é o cinema, ou a televisão, ou o mais longínquo circo, por exemplo?

Assistir a uma peça é uma oportunidade de conhecer um grupo, o seu trabalho, os seus actores, para poder saber da sua qualidade, para ir, peça a peça, avaliando e criticando a sua evolução ou, caso assim seja, estagnação.

Ir ao teatro é sempre uma mais valia, porque para saber que gosto e do que gosto, é preciso experimentar.

Parabéns pelo texto.

Marado

Diogo Ferreira disse...

Tu já sabes que adoro o que escreves, e a cada texto que passa ainda gosto mais e mais.

É um temática bem abordada e que me fez pensar também, espero que esse seja o efeito em todos leitores e que todos possam descobrir dentro de si mesmos se gostam de ir ao teatro ou lhes abriu o "apetite" de descobrir o que é "ir ao teatro".

Parabéns por mais um texto magnífico.

Diogo Ferreira