terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Sondagem de Janeiro

Na nossa última sondagem, propusemos uma opinião sobre a gestão dos Teatros existentes em Portugal através de quatro hipóteses: um serviço público de gestão pública, um serviço privado de gestão pública, um serviço público de gestão privada e um serviço privado de gestão privada.

Surgiu a ideia desta sondagem através da recordação da Rivolição, manifestação e ocupação do teatro Rivoli em Outubro de 2006 por actores, encenadores e espectadores da peça de teatro “Curto-circuito”, que se caracterizou contra a polémica tomada de decisão da Câmara Municipal do Porto em privatizar esse espaço cultural. Foram exigências dos ocupantes e dos manifestantes que se solidarizaram com a causa, pertencentes a associações culturais, movimentos políticos e independentes, a interrupção do processo de passagem do Rivoli de serviço público a serviço privado.

Pessoalmente, sempre considerei que a cultura deve ser considerada um Bilhete de Identidade e uma importante troca de comunicação entre todos e para todos os cidadãos da comunidade que a gerem. A privatização de um espaço público como o Teatro poderá ser interpretada como um amordaçamento de uma das muitas vozes que a sociedade tem para se expressar. A privatização de um espaço público é a negação de um direito garantido e a reivindicação pela permanência da gestão pública não é mais do que uma declaração desesperada para não tirarem à cultura o que é da cultura, ou seja, para não tirarem a identidade cultural que pertence inatamente à sociedade.

Também assim o consideraram os votantes desta sondagem. Foi a sondagem que mais peso teve numa hipótese: 89% considerou que a gestão dos Teatros se deve manter pública e com serviço público. Ou seja, o Teatro, sendo um espaço que exprime a cultura de uma comunidade, não pode ser limitado a uma pequena parte da sociedade que não representa o seu todo.

Apenas 11% dos votantes consideraram que a gestão do Teatro se deve manter pública mas com serviço privado. Interpreto isso como um financiamento público com uma programação cultural limitada a um grupo restrito que não consulta a opinião pública sobre a mesma. Tenho uma forte divergência em relação a esta hipótese, pelas razões que apontei, bem como em relação às outras duas hipóteses possíveis: um serviço público de gestão privada e um serviço privado de gestão privada.

Fiquei bastante contente com o resultado e nem esperava outra conclusão. O Teatro é um espaço de todos e para todos e, tal como consideraram a maioria dos votantes, deve ser preservado como tal. As “Rivolições” devem continuar uma vez que é assim que a maioria entende e, a meu ver, cheia de razão.

Pedro Kayak

Um comentário:

Miguel Marado - NCB disse...

Fico contente com esta sondagem, pelo seu conteúdo e resultado. Demonstramos assim a vantagem que é ter várias cabeças a abordar os diversos textos que aqui temos e a planear as diversas sondagens.

Na senda do bom trabalho que vem sendo aqui feito, nesta página, o Kayak trouxe-nos uma sondagem que dificilmente outro se lembraria, que é muito apropriada, por sinal.

Analisou os seus resultados conforme se pediria, dando o devido relevo ao papel contestatário que associações e cidadãos devem ter, quando os "nossos" governantes abusam da nossa propriedade. Qualquer dia, em vez de Auditório Municipal Galécia temos um Teatro "Maxygrulo", "Pinho Doce", ou algo do género...

Bom trabalho!

Miguel Marado