terça-feira, 20 de maio de 2008

Opressores e Oprimidos: Quem são?

Augusto Boal propõe-nos descobrir o fosso existente dentro das sociedades. Quem separou a “água do azeite?”, os ricos dos pobres, os brancos dos pretos, os homens das mulheres, os gays dos heteros? Fosse quem fosse, separou os actores dos espectadores!

Quem vê e vibra com o teatro sabe que é incapaz de estar parado na cadeira. Solta risos, choros e bocejos, levanta-se para a ovação final ou para o insulto merecido. Sente-se parte da peça tomando partido com os actores, avaliando a situação e ainda dando palpites sobre o que acontece ou sobre o que poderá acontecer. O espectador, ao contrário do que nos querem fazer crer não é passivo, não está calado, não é silencioso. É interveniente e quer fazer parte da peça. Quer ajudar a “salvar a donzela com o príncipe e matar o vilão!”.

O que os oprimidos que fazem teatro querem é tapar o buraco do palco para o público. Querem levar à cena situações quotidianas típicas e identificáveis pelos espectadores. Querem acabar com as situações de opressão vividas por todos e todas nós nas nossas escolas, nos nossos trabalhos, enfim, no nosso dia-a-dia. Querem convidar os espectadores a subirem ao palco e a alterarem a cena opressora conforme a sua opinião. É a Democracia Teatral.

Porquê fazer isso em teatro? O Teatro é político? Augusto Boal diz que sim, o teatro é uma arma política. E com razão, interpreto que se o teatro é do povo e o “Homem é um animal político”, ou seja, se as situações diárias não são mais do que fruto de decisões políticas, então o retrato teatral sobre o quotidiano tem que ser necessariamente político. E se analisarmos melhor, o nosso quotidiano é feito de opressores e oprimidos. Onde? Nas escolas, no emprego, no desemprego, na sexualidade. Todos têm opressores e oprimidos. Aliás, somos infectados com o fatalismo de que o mundo é assim e que nada o pode mudar. Nada? Vamos pôr a realidade em teatro. Se conseguirmos transformar a cena, se conseguirmos promover a mudança com o público, então já nada nos pode parar!

Foi com grande agrado que percebi que a Nova Comédia Bracarense estava preparada para aceitar o desafio de construir uma nova forma de fazermos Teatro. Actualmente, enceno o workshop Teatro do Oprimido, a convite desta Associação de actores amadores, que tem em vista a concretização dos objectivos em cima mencionados. À Direcção da Nova Comédia Bracarense, e em especial, ao actor Miguel Marado, um bem-haja para a construção de um mundo melhor a partir do Teatro.

Pedro Kayak

Um comentário:

Miguel Marado - NCB disse...

Um excelente texto de estreia aqui no blog (mais um!). O Kayak mostra-nos com a sua forma de expressão solta e cristalina, que capta o leitor, o seu amor pelo "teatro" e pelo Teatro do Oprimido.

Agradeço-lhe o workshop que tem trazido até nós e espero que sejamos, tal como ele foi com este texto, muito bom no palco, quando levarmos o Teatro do Oprimido, e com ele o nosso público, para o palco.

Marado