quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Algo diferente

Vou escrever neste texto algo diferente, sobre o grupo juvenil da Nova Comédia Bracarense. Sim. Eu sei. Já sei que existem montes de textos sobre o nosso grupo, uns mais lamechas que outros. Mas eu quero escrever sobre o nosso actual estado. O grupo actual está junto há já dois anos, sendo que o grupo inicial foi formado á seis anos, em 2001, portanto. Do grupo inicial sobramos eu e Marado…

Como toda a gente sabe o grupo recomeçou há pouco mais de dois anos. Depois de algumas entradas e saídas, o grupo que levou a estrear a “Trilogia Hitchcock” era composto por mim, pelo Marado, pela Joana Raquel, pela Joana Barroso, pelo Hugo, pelo Nuno, pela Nela, pela Ângela, pelo Mário, pela Liliana e pela Cátia. O grupo que estava super nervoso na sexta-feira, 2 de Junho, dia da nossa estreia, o grupo que festejou com pizza e espumante, é o mesmo. Todos juntos, a ajudarem-se mutuamente, com a roupa, com a decoração, com os textos. Juntos a funcionar como uma verdadeira equipa.

Sinceramente, tenho saudades desses tempos. Tempos em que chegava á sexta-feira ao fim da tarde e ia para o Galécia, o mítico Galécia, umas vezes a pé, á chuva, outras vezes de boleia com o Hugo, ou em cima ou em baixo do Marado, às vezes ao lado e outras vezes de carro com o Marado (o Marado ao lado, no banco de passageiros). Tenho saudades dos tempos em que ia para cima do palco, com o texto mais ou menos decorado, tentar fazer e dizer aquilo da melhor maneira possível. Tenho saudades do convívio. Não só do convívio que passamos em cafés ou bares, mas também do convívio teatral, do convívio do Galécia. O ano passado saí, vim para Faro; a Joana Raquel foi de Erasmus para Barcelona; o Hugo desapareceu para os lados de Bragança e entraram o Diogo Ferreira e o Daniel Mendes. O grupo enveredou, como toda a gente sabe, pelas técnicas do improviso. Pessoalmente, não gosto do improviso, porque para surgirem resultados dignos de nota é preciso uma capacidade artística e uma imaginação que estão fora do meu alcance. Prefiro peças com textos onde nos possamos basear. Com novos ensaios e espectáculos o grupo foi evoluindo nesta técnica. Conjuntamente com a evolução do blog e dos seus textos publicados semanalmente.

Lembro-me, saudosamente dos tempos passados no auditório, onde as nossas ideias e os nossos contributos para o espectáculo jorravam, onde havia discussão, mas também compreensão. Sinto falta da Alice, do Lenny, da Marta, do Rexy e de tantas outras personagens existentes dentro de nós. Falta de sentir a adrenalina única de estrear uma peça com vocês. Mas enfim, águas passadas não movem moinhos. Só peço que se mobilizem, unam-se, construam algo de que um dia mais tarde se possam orgulhar. Apoiem, ajudem e mexam este grupo. Façam-no andar para a frente.


Pedro Oliveira

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Técnicas do Teatro e a sua utilização no nosso dia-a-dia

São muitas as técnicas do Teatro que utilizamos no nosso dia-a-dia sem nos darmos conta: a dicção, a projecção de voz, também as técnicas para decorar um texto e a forma como respiramos para a nossa voz sair mais firme e segura.
A dicção é umas das técnicas chave do teatro, muitas vezes é dela que depende se a peça é percebida pelo público ou não, por isso os actores apostam muitas vezes em trabalhar a dicção. Mas também no nosso dia-a-dia a dicção é importante para sermos percebidos e conseguir argumentar as nossas ideias claramente.
A projecção de voz é outro elemento muito importante, com esta técnica o actor fala alto sem esforçar as suas cordas vocais e isto, associado à dicção, é um elemento chave para que o nosso publico entenda a peça para no final poder comentar se gostou ou não, se entendeu qual a historia da peça, etc. Podemos utilizar estas duas técnicas em conjunto na apresentação de projectos quer seja na universidade, que é o meu caso, como no trabalho. Isto vai facilitar a compreensão do trabalho e futuramente a crítica.
Quando um actor recebe em mãos a próxima peça a ser realizada, a primeira coisa que faz é lê-la do princípio ao fim, para compreender o tipo de peça (se é uma comedia, um drama, um suspende, etc.). Depois pode sublinhar as falas da sua personagem, para a distinguir das outras quando for para decorar. Mas, antes de passar para fase de decorar as nossas falas e as deixas das outras personagens, temos que perceber a personagem, quais são as suas características, quais são os seus defeitos e os seus sentimentos em relação à história. Quando decoramos a peça temos que a dividir por partes quando esta é muito grande, podemos ler em voz alta a nossas falas para decorar, podemos pedir ajuda a alguém que nos dê as deixas para depois dizermos as nossas falas, etc. Existem várias técnicas para decorar uma peça: o actor é que tem que escolher a que se adapta melhor a si. Esta forma de estudar o texto pode ser aplicada nos estudos como no trabalho, primeiro temos sempre que compreender um texto para poder depois decorar, o que vai facilitar a memorização, porque a partir do momento que temos as ideias chave do texto torna-se mais fácil memorizá-lo.
A forma como respiramos também é algo importante. A respiração torácica faz que a nossa voz, quando é projectada com os nervos, saia tremida, e isso faz com o público não perceba as falas daquele actor. Por isso a respiração abdominal substitui a torácica, para a voz sair firme e segura, sem se notar o nervosismo inicial do actor que depois de pisar o palco passa, esquecem-se os nervos e encarna-se a personagem. A respiração abdominal pode ser utilizada quando temos que apresentar um projecto, ou quando temos que falar em frente de centenas de pessoas e nos sentimos nervosos. A nossa voz vai sair de forma perceptível, firme e segura, sendo que ninguém vai notar o nosso nervosismo, o que faz com que, enquanto apresentamos, comecemos a sentir-nos mais relaxados, porque ninguém notou a nossa insegurança inicial.
Isto são pequenas coisas no nosso dia-a-dia que nem reparamos como podem ser importantes no teatro, da mesma maneira que não reparamos como o teatro pode ser tão importante para nos ajudar no nosso dia-a-dia.



Liliana Ribeiro

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

25

25 costuma ser um quarto de cento, muito dinheiro para pagar por um copo de água, ou mesmo um número. Este é, de facto, o vigésimo quinto texto do nosso blog, iniciado no dia 1 de Junho deste ano. Pessoalmente acho este marco importante, visto aparecer na altura certa e prevista.

Fossem mais ou menos atribuladas, nestas últimas 25 semanas houve sempre um texto, dentro dos nossos objectivos de qualidade, com um autor cá dos nossos, um jovem da NCB, a pousar ao de leve os dedos no teclado. Há, até, atitudes de luxuoso desperdício de textos que nunca verão a “luz do blog”. Tem havido sondagens, umas participadas, outras nem tanto; há alguns (poucos) comentários aos textos; temos os nossos links importantes (e egocêntricos), os nossos perfis… Resumindo, estamos a criar o nosso espaço na web.

Acho que é importante estarmos a colocar, semanalmente, material novo no blog, sem ter tido até agora qualquer falha. Claro que, como em qualquer situação, isso se deve mais a uns do que a outros, e acontece porque há esforço nesse sentido, há e-mails a voar, há actividade cerebral colectiva que não transparece sempre. Passamos já por reflexões acerca do grupo, falamos do improviso, abordamos a criação de personagens, falamos de projectos futuros, de projectos passados, da TV e dos seus defeitos e virtudes. Comentamos actualidades e espectáculos, descrevemos situações, criticámos políticas escassas e pobres. Muitas palavras já foram aqui escritas (e por sinal, muito poucas tão aborrecidas como estas…).

Chegando ao texto número 25, acho importante ambicionar trazer-vos mais, em todos os sentidos: dar-vos mais qualidade e vivacidade, e conseguir que estejam connosco mais vezes e mais tempo, que nos comentem, que nos venham ver e desfrutem de nós. Chegamos ao ponto em que só podemos esperar que os nossos amigos, familiares, colegas e conhecidos nos digam, como a música do eterno poeta: “Here we are now, entertain us!”. Nós queremo-vos aqui, queremos entreter-vos.

Concluindo, só posso dizer: “mãos à obra!”. Vamos intensificar a qualidade do blog e estar em grande, em todo o lado, com o nosso querido público. Vamos fotografar situações interessantes e publicá-las. Vamos esgotar as potencialidades dos instrumentos que podemos ter, como sejam as sondagens, o YouTube, os quadros para deixar mensagens, tudo o que nos lembrarmos… O passo seguinte será o sítio da Internet de toda a NCB, que vai aparecer o mais breve possível, mas só quando for para acontecer em grande.

Presentes para ti, todas as quartas-feiras, para sempre (ou até à poluição acabar com o planeta, ou algo semelhante…): ncbjovens.blogspot.com . Até p’rá semana, gente!


Miguel Marado

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Escola Francisco Sanches ou O Adeus

Se não se importam, gostava de falar do outro grande projecto teatral da minha vida neste texto. A Nova Comédia Bracarense não se vai importar que eu fale, momentaneamente, do projecto de teatro da escola Francisco Sanches.

Foi lá, nessa escola EB 2,3 que se localiza em S. Victor, Braga, que a minha “carreira” teatral começou. Posso dizer que se fez o actor que eu sou ali, porque se não tivesse sido a Chico Sanches o palco e eu seríamos estranhos. Foi com o “José Félix” da peça “Falar verdade a mentir”, de Almeida Garrett, e com o “Guanes” da adaptação d’ “O Tesouro”, de Eça de Queirós, que eu me estreei, depois de algumas pequenas peças enquanto criança, no infantário, mais por brincadeira que por outra razão mais apropriada e informada.

Depois desse 9º ano no qual me estreei, uma peça escrita por mim, com elenco formado pela “elite artística” do teatro da Francisco Sanches desse ano, levou-nos para a Nova Comédia Bracarense. Alguns de nós fomos ficando até hoje.

Eu não fiquei só na NCB. Durante os seis anos seguintes participei em inúmeras peças da Francisco Sanches, começando por contribuir numa peça anualmente e acabando com a mão em várias peças, com crianças entre os 10 e os 17 anos a aprenderem não só com a Manuela Duarte, professora e amiga, mas sobretudo mentora no que respeita ao teatro, mas também comigo.

Durante seis anos ganhei amizades; vivi a escola; senti a evolução da qualidade do teatro; da capacidade crítica do nosso público alvo, os familiares dos nossos alunos; fui “professor”; aprendi muito. Ganhei grandes momentos que a minha memória vai digerir lentamente até que um dia, quais lágrimas que rolam com calma, mas impetuosas, do queixo para o chão, se dissolverão.

Foram os toques da campainha, as manhãs antecipadas, as tardes encurtadas, os textos decorados, que ajudaram a regular a minha vida, a dar-lhe a forma que tem. Os amigos não seriam os mesmos sem aqueles momentos, nem mesmo a NCB seria o que é, pelo menos no que respeita ao grupo juvenil. A Ângela e o Nuno são membros antigos do grupo, que trouxe do teatro da Sanches; o Pedro Jorge foi meu colega lá, e começou ao mesmo tempo que eu nestas andanças; o Pedro, o Bruno e o Tiago, membros do workshop que agora decorre na NCB-Jovens, são antigos alunos e colegas do teatro da Sanches; finalmente, conheci o Daniel numa peça de antigos alunos na qual ele foi convidado a participar pelos artistas que acabei de mencionar.

Não vos posso dizer que foi tudo positivo e atractivo, houve momentos em que pensei desistir, fazer um último espectáculo, consciente de que o meu lugar ali se tinha expirado. Acabei por não desistir, apesar do esforço que empreendi, apesar de alguns meninos mal-educados, apesar de dores de cabeça em dias de espectáculo. A grande amizade que tenho com a Manuela Duarte e o gosto pela escola e os seus alunos impediram-me sempre de sair.

Em seis anos terminei tanto o curso do ensino secundário como o do ensino superior. Este ano tornou-se imperativo empregar-me, iniciar a actividade produtiva. Os dias longos de trabalho dão-se cinco dias por semana, pelo menos. Como é evidente, todos estes dias coincidem com a habitual actividade do projecto de teatro da Francisco Sanches. No dia 1 de Outubro, o mês passado, numa pequena representação, – a peça “Corta!”, – num local atípico, – um lar onde se comemorava o Dia do Idoso, – actuei pela que parece ser a última vez “com a camisola” da Francisco Sanches. No dia 2 tive a minha primeira e única entrevista de emprego, que me trouxe para onde estou hoje.

Depois de sete anos, acaba sem que eu pudesse calcular, bruscamente, um dos meus maiores investimentos do meu tempo a nível teatral. Adorei cada momento. Gostava de poder continuar, gostava de ir algumas vezes por semana para lá, estar com os alunos e a professora Nélinha, e não pensar em coisas de adultos, em coisas aborrecidas. Infelizmente, não vejo maneira de voltar. E hoje, dia 1 de Novembro, conforme escrevo, apercebo-me que isto é como uma morte para mim. No apelidado Dia de Todos os Santos faz um mês do que terá sido o meu (imprevisivelmente) último espectáculo pela minha querida Chico Sanches.

A vida também se faz de despedidas. Espero ficar com a NCB para sempre, porque só eu sei porque não fico em casa, onde ela sempre foi: na escola Francisco Sanches e a sua apertada sala de teatro, com corticite no chão e aquela luz forçosamente artificial que tanto me iluminou.

A vida escorre, a realidade esvai-se, os amigos mantêm-se…

Adeus, Francisco Sanches, até uma próxima…


Miguel Marado